sábado, 14 de maio de 2011

Carácter de sócrates

A coragem de Sócrates fazia par com uma paciência, uma simplicidade e um domínio sobre si próprio a toda a prova; a sua resistência à fadiga, vimo-lo, era célebre, mas esta resistência permitia a Sócrates fazer boa figura em todos os banquetes, ser um conviva agradável e jovial, bebendo tanto quanto  os seus companheiros sem nunca cair como eles na embriaguez, proeza que enchia Alcibíades de admiração. Reprovaram frequentemente Sócrates por ter tido como amigos debochados como Alcibíades, que o perseguia logo nos seus primeiros passos, ou Crítias, que havia de tornar-se um dos Trinta Tiranos, mas é preciso sublinhar com Xenofonte, que durante todo o tempo em que Alcibíades e Crítias seguiram o ensinamento de Sócrates, este conseguiu pôr um freio às suas paixões que não se desencadearam verdadeiramente senão a partir do momento em que eles se desligaram do seu mestre. A cólera, a irritação, o ódio eram desconhecidos para Sócrates; um dia um contraditor, já sem argumentos, deu uma bofetada em Sócrates e este respondeu-lhe tranquilamente:
     «É extremamente aborrecido não saber quando é que é preciso pôr um capacete antes de sair.»( in Jean Brun, página 34)  Como se espantavam com a sua resignação quando alguém acabava de lhe dar um pontapé, Sócrates justificava-se: «Mas o quê! Se fosse um burro que me tivesse dado um pontapé, iria eu mover-lhe um processo?» ( in Jean Brun, página 34)
        A apresentação de Sócrates era sempre modesta, simultaneamente porque Sócrates era pobre e porque era simples; nunca o viram entregar-se a qualquer exibicionismo do modo de vestir negligenciado como haviam de fazer os Cínicos. Sócrates não foi um vaidoso com uma qualquer fingida humildade. Os mantos de púrpura, os estofos de prata e de ouro são úteis a actores que vão representar a tragédia mas perfeitamente inúteis para a felicidade da vida, no entanto outros representam igualmente com andrajos e é por isso que Sócrates diz àquele filósofo cínico que exibia os buracos do seu vestuário:
     «Eu vejo a tua vaidade através dos buracos do teu manto.» ( in Jean Brun, página 34)  
        Sócrates não procurava provocar o escândalo, se a alguns ele parecia escandaloso, era sempre contra a sua vontade; nada lhe era mais estranho que a arrogância. Se Sócrates via alguns objectos expostos pelos mercadores dizia:
«Quantas coisas de que não tenho necessidade!»( in JeaBrun, página 35)

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