sábado, 14 de maio de 2011

Resumo sobre o filosofo Sócrates e o Blog

Sócrates é talvez a personagem mais enigmática de toda a história da filosofia. Talvez pelo simples facto de não ter escrito nem uma linha. Apesar disso, pertence ao número de Filósofos que exercem maior influência no pensamento Europeu. Mesmo quem não possui muitos conhecimentos de Filosofia, conhece certamente este personagem e principalmente toda a tragédia da sua morte. Nesta página retratamos a vida de Sócrates no que diz respeito à sua educação, sua vida familiar,  sua aparência, seu carácter, seu círculo de amigos,seus métodos filosóficos , suas doutrinas, obras , sua morte, pensamentos e a relação que estabelecia com os seus discípulos além de fotos  e videos. 

O começo da vida de Sócrates

Sócrates nasceu em 470 a.C. (ou talvez em 469 a.C.) na cidade de Atenas, perto da região de Alopeke. Era um vilarejo razoavelmente pobre, que ficava fora das muralhas de cidade a mais ou menos 30 min de caminhada. Seu pai era um escultor, especialista em entalhar colunas nos templos, sua mãe uma parteira. 
Qualquer pessoa que tivesse de trabalhar para sobreviver, nesta época, não era muito bem vista, afinal os atenienses deixavam seus trabalhos para os escravos. A família de Sócrates não era escrava, mas não possuíam também qualquer escravo que trabalhasse por eles, viviam por conta própria procurando por locais onde precisassem de seu trabalho. Entretanto a vida não era tão difícil, naquela época Atenas estava ficando cada vez mais rica, e os trabalhos de construções apareciam a toda hora. 
Sócrates vivia uma vida normal, tentando aprender o ofício de seu pai, o que ele achava complicado demais, e tendo uma vida comum. Não foi para a escola, nem aprendeu a ler, ou a escrever, embora tivessem algum dinheiro os professores eram caríssimos, chegou a fazer alguns cursos, como música ou condicionamento físico. Muitas vezes os amigos zombavam dele pela sua incapacidade de trabalhar o mármore, mesmo quando aparecia uma oportunidade de ajudar o seu pai, sempre acabava atrapalhando tudo. 
E ele teria tido uma vida comum, aprendendo a toda custa a conseguir entalhar o mármore, se não fosse um grande amigo seu. Havia perto de Atenas um grande Oráculo, um local onde as pessoas iam para fazer um pergunta sobre o futuro. Era o Famoso Oráculos de Delfos, onde as sacerdotisas do deus Apolo faziam adivinhações sobre o futuro. Toda pessoa, ao menos uma vez na vida, teria chance de ir lá fazer a sua pergunta. 
Eis que este amigo de Sócrates, ao chegar para fazer a pergunta , perguntou uma coisa não muito comum: "Eu quero saber quem é o homem mais inteligente de todo o mundo" e a resposta foi ainda mais inesperada: "O homem mais inteligente do mundo é o seu amigo, Sócrates" 
Voltou então o seu amigo para Sócrates contar o ocorrido, quando este ouviu achou que havia algo errado. "Mas como? Ou os deuses mentem ou eu realmente sou o homem mais inteligente do mundo?" porém ele tinha certeza de que não era tão inteligente assim, lembrou-se então que havia um professor por aquelas redondezas que diziam ser muito inteligente, juntou todas as economias que tinha feito e foi pedir um aula para tal homem, com a certeza de que provaria que este professor era mais inteligente do que ele, mero filho de artesão. 
Acontece que ele ouviu durante horas as palavras do professor e a cada afirmação do professor ele lhe perguntava o porquê e o como havia aprendido aquilo. Descobriu que o professor apenas repetia o que haviam ensinado para ele, e que nada havia descoberto ou aprendido por conta própria. Eles apenas repetiam, e nem mesmo sabiam se quem tinha ensinado aquilo para eles sabiam mesmo ou só tinham inventado. 
Meio decepcionado Sócrates voltou para casa e pediu dinheiro ao seu pai gostaria de ir ver um outro professor, mais famoso que aquele e que era de grande prestígio entre os mais ricos de Atenas, seu pai, vendo que aquilo era importante para o filho, aceitou e deu parte de suas economias a ele. 
Mas chegando à casa de tal professor tudo se repetiu. Ele não havia como provar nada do que dizia, e nunca havia visto os feitos que contava, apenas repetia e decorava o que os seus professores haviam falado. 
Sócrates ficou irado, aquelas pessoas ficaram ricas apenas repetindo o que lhes disseram, e nunca aprenderam nada, ele sabia que ele era mais inteligente que elas mas sabia que não era o homem mais inteligente do mundo, voltou então para casa, se havia alguém que ele sabia que era mais inteligente do que ele era o seu pai ele era o melhor escultor da região. 
Ficou então a observar seu pai entalhar a pedra e percebeu que aquilo era um trabalho repetitivo, que havia sido ensinado pelo seu pai e pelo seu avô e que nada havia de novo no que ele fazia. Saiu ele então pela estrada a procurar homens sábios e tentar provar que ele não era o homem mais inteligente do mundo. 
Acabou convivendo com grandes filósofos, e a cada vez que encontrava um deles um grupo de pessoas se aglomeravam em volta para ver o que conversavam e logo com suas perguntas de por quê, mas como, me prove, acabavam por deixar o filósofo irritado, e Sócrates provava que o famoso filósofo não sabia direito o que estava falando. 
Com isso um grupo de jovens passa a segui-lo, várias e várias pessoas, e o número cada vez aumenta mais todos pediam para que ele ensinasse o como ficou tão inteligente , ofereciam muito dinheiro mas ele dizia que não poderia aceitar tal dinheiro , pois ele não era digno de ensinar, e tudo o que ele havia aprendido tinha sido por conta própria, e por tantas conversas com outras pessoas e consigo mesmo. 
Isso logo ficou conhecido como dialética , a arte de aprender conversando com todo mundo. ( di = dois / logos = conhecimento , então dialética é a conversa entre dois conhecimentos ) 
Mas foi somente junto com a sua mãe que ele pôde descobrir a verdadeira função ele, conta-se que um dia ele foi levado junto com a sua mãe para ajudar em um parto complicado, ele começou a pensar no trabalho dela, ela não deveria criar o bebê, apenas ajudar a ele nascer e tentar diminuir a dor do parto, ao mesmo tempo, se ela não tirasse o bebê, logo ele iria acabar morrendo, e igualmente a mãe morreria. 
Sócrates então começou a pensar que ele também, de certa forma, era um parteiro, o conhecimento estava dentro da pessoa pois ele era capaz de aprender por si mesma, mas ele poderia ajudar esse conhecimento a nascer e tentar diminuir a dor disso por isso mesmo até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que é parteira em grego). 
Assim ele ficou muito famoso em toda a região, e conseguiu muitos e muitos discípulos, mas logo os antigos professores foram ficando irados, como aquele homem poderia ensinar de graça e pregar que não se precisavam de professores como eles. E ainda mais, ele negava que deveria se acreditar em algo, era preciso verificar se aquilo realmente era verdade, logo Sócrates tinha muitos inimigos. 

Vida Familiar

Sobre a vida familiar de Sócrates possuímos alguns detalhes nem sempre concordantes, o que é certo é que Sócrates desposou Xantipa. Alguns autores pretendem que ele teria sido primeiro marido de Mirto, filha de ou neta de Aristides, o Justo, outros afirmam mesmo que ele teria sido simultaneamente o marido de Mirto e de Xantipa; sendo a monogamia uma instituição ateniense, pretendeu-se que Sócrates teria aproveitado um decreto excepcional que incitava os Atenienses à poligamia a fim de aumentar a taxa de natalidade de uma Atenas esgotada pela guerra e pela doença; na realidade parece mesmo que o decreto em questão reconhecia, em certas condições, o título de homens livres a filhos nascidos fora do casamento. O mau carácter de Xantipa era proverbial em toda a Antiguidade, ela deixou a reputação de uma mulher irascível. Xenofonte diz-nos que ela era a mais insuportável das mulheres passadas, presentes e vindouras e não faltam anedotas que no-la representam sempre a gritar, atirando um vaso de água à figura do seu marido ou virando a mesa ao contrário quando Sócrates convida um amigo para jantar. Sócrates teve a seu respeito uma atitude paciente e resignada e não viu provavelmente nela a ajuda que lhe era necessária para levar a bom termo o seu dever cívico de paternidade. Alcibíades espantava-se com a paciência de Sócrates perante esta esposa sempre ocupada em gritar:
«E tu, diz-lhe Sócrates, não suportas os gritos dos teus gansos?  Sim, responde Alcibíades, mas eles dão-me ovos e gansinhos.  Pois bem, replica Sócrates, Xantipa dá-me filhos.» Interrogado no sentido de se saber se o casamento era preferível ao celibato, Sócrates respondeu: «Qualquer que fosse o partido que escolhêsseis, vós arrepender-vos-íeis dele». ( in Jean Brun, página 31)
É conhecida a passagem do princípio do Fédon, em que Sócrates vê a sua mulher pela última vez. Rodeada dos discípulos Xantipa proferiu maldições e discursos absolutamente do género habitual nas mulheres, ela disse:
"Eis, Sócrates, a última vez que conversarão contigo os que te estão ligados, e tu com eles!" ( in Jean Brun, página 31)
Sócrates lançou um olhar para o lado de Críton: "Críton, diz ele, levem-na para casa!"( in Jean Brun, página 31) E enquanto que a levavam alguns dos homens de Críton, ela vociferava batendo-se no peito.»
Não é impossível, também, que a lenda tenha feito de Xantipa um carácter caricatural não sendo senão poucas relações com a verdade.
Sócrates teve três filhos, o mais velho Lâmprocles, Sofronisco e Menéxeno; segundo certas tradições, uns seriam de Mirto e os outros de Xantipa, mas nada permite pronunciar-se sobre este ponto com certeza.

Sócrates - O Filósofo de Atenas - Documentário - Curta Metragem - Legendado

Aparência Física de Sócrates

Sócrates era feio, o que espantava fortemente os seus contemporâneos para quem o corpo era o envelope e a imagem da alma; a beleza física devia acompanhar a beleza moral. O próprio Sócrates admitiu ser feio, pois tinha o nariz achatado com os buracos à mostra, os lábios espessos, os olhos salientes e esbugalhados. A pessoa de Sócrates era pois uma espécie de escândalo pela sua própria manifestação tanto ela parecia trazer na carne os estigmas da paixão, e quando o fisionomista Zopiro o viu pela primeira vez declarou-o imbecil de nascença, inculto e imperfectível.

Carácter de sócrates

A coragem de Sócrates fazia par com uma paciência, uma simplicidade e um domínio sobre si próprio a toda a prova; a sua resistência à fadiga, vimo-lo, era célebre, mas esta resistência permitia a Sócrates fazer boa figura em todos os banquetes, ser um conviva agradável e jovial, bebendo tanto quanto  os seus companheiros sem nunca cair como eles na embriaguez, proeza que enchia Alcibíades de admiração. Reprovaram frequentemente Sócrates por ter tido como amigos debochados como Alcibíades, que o perseguia logo nos seus primeiros passos, ou Crítias, que havia de tornar-se um dos Trinta Tiranos, mas é preciso sublinhar com Xenofonte, que durante todo o tempo em que Alcibíades e Crítias seguiram o ensinamento de Sócrates, este conseguiu pôr um freio às suas paixões que não se desencadearam verdadeiramente senão a partir do momento em que eles se desligaram do seu mestre. A cólera, a irritação, o ódio eram desconhecidos para Sócrates; um dia um contraditor, já sem argumentos, deu uma bofetada em Sócrates e este respondeu-lhe tranquilamente:
     «É extremamente aborrecido não saber quando é que é preciso pôr um capacete antes de sair.»( in Jean Brun, página 34)  Como se espantavam com a sua resignação quando alguém acabava de lhe dar um pontapé, Sócrates justificava-se: «Mas o quê! Se fosse um burro que me tivesse dado um pontapé, iria eu mover-lhe um processo?» ( in Jean Brun, página 34)
        A apresentação de Sócrates era sempre modesta, simultaneamente porque Sócrates era pobre e porque era simples; nunca o viram entregar-se a qualquer exibicionismo do modo de vestir negligenciado como haviam de fazer os Cínicos. Sócrates não foi um vaidoso com uma qualquer fingida humildade. Os mantos de púrpura, os estofos de prata e de ouro são úteis a actores que vão representar a tragédia mas perfeitamente inúteis para a felicidade da vida, no entanto outros representam igualmente com andrajos e é por isso que Sócrates diz àquele filósofo cínico que exibia os buracos do seu vestuário:
     «Eu vejo a tua vaidade através dos buracos do teu manto.» ( in Jean Brun, página 34)  
        Sócrates não procurava provocar o escândalo, se a alguns ele parecia escandaloso, era sempre contra a sua vontade; nada lhe era mais estranho que a arrogância. Se Sócrates via alguns objectos expostos pelos mercadores dizia:
«Quantas coisas de que não tenho necessidade!»( in JeaBrun, página 35)

Círculo de Amigos

Sócrates era um ateniense que vivia na sua cidade, no meio dos seus contemporâneos, que sabia fazer reflectir os despreocupados como os pretensiosos e que nunca ficava vaidoso com o número de jovens que procuravam a sua companhia e as suas conversas simples, directas e profundas. Ao lado de pessoas com quem ele conviveu na ágora, Sócrates estava rodeado por um círculo de amigos fiéis entre os quais se encontravam grandes nomes. 
    Encontravamos neste círculo Eurípides, cujas tragédias Sócrates ía ver e nas quais alguns afirmavam que colaborava, Alcibíades, cuja beleza era tão célebre como o foram os seus deboches, Crítias, que havia de tornar-se um dos Trinta Tiranos, o estratego Laques, Críton, Téages, Hermógenes, Menexeno, Teeteto, Cármides, Galcon irmão de Platão, Cherefronte, Símias, Cebes, Xenofonte. A maior parte destas personagens figuram nos diários de Platão. Ao lado destes encontramos  outros filósofos, amigos de Sócrates, que haviam de tornar-se célebres. Desde logoPlatão, de longe o maior; Euclides, o Megárico, em casa de quem Platão e outros discípulos se refugiaram depois da morte de Sócrates; Antístenes, o fundador da escola cínica; Aristipo de Cirene, que tinha vinda de África atraído pela reputação do filósofo anteniense.

Doutrinas Filosóficas

A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lemaconhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b)com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.

Método de Sócrates

É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, oconceitoque se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironiasocrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava elemaiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.

Gnosiologia

O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. Agnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia,maiêuticaintrospecçãoignorânciainduçãodefinição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático"conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.

A Moral

Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles . Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.

Escolas Socráticas Menores

A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A doutrina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência. Entre os seus numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto.
Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem deixou algo de escrito; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indiretamente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual, mediante o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos pré-socráticos desenvolvendo-o em sistemas vários e originais. Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas. Estas - mesmo diferenciando-se bastante entre si - concordam todas pelo menos na característica doutrina socrática de que o maior bem do homem é a sabedoria. A escola socrática maior é a platônica; representa o desenvolvimento lógico do elemento central do pensamento socrático - o conceito - juntamente com o elemento vital do pensamento precedente, e culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta escola começa a decadência e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores.
São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as mais conhecidas são:
1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão.
2. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445), que, exagerando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de Diógenes.
3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo, (n. c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer. Estas escolas, que, durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles , verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dentre os herdeiros de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão.

Galeria de fotos de Sócrates










Sócrates - Encyclopedia Channel - legendado

Frases de Sócrates

"Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem."

"Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida."

"Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos."

"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses."

"O verdadeiro conhecimento vem de dentro."

"Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância."

"O ideal no casamento é que a mulher seja cega e o homem surdo."

"Só sei que nada sei."

"Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo."

"O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele."

"Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância."

"Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados."

"Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará."

"Aquilo que não puderes controlar, não ordenes."

"O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu caráter."

"A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser."

"Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcial-mente."

'Se todos os nossos infortúnios fossem colocados juntos e, posteriormente, repartidos em partes iguais por cada um de nós, ficaríamos muito felizes se pudéssemos ter apenas, de novo, só os nossos."

"O homem faz o mal, porque não sabe o que é o bem".

A Morte de Sócrates

A  2.400 anos êle disse: " Eu sou a minha alma". Isto demonstra que já sabia que a alma é imortal.
Pelas ruas de Atenas, envolto num áspero manto, com pés descalços e cabeça descoberta, vagava Sócrates distribuindo sabedoria. Era um homem fisicamente feio, mas manso e dócil como um santo. Tinha a profissão de escultor que pouquíssimas vezes exerceu, pois preferia esculpir sábias palavras.
Pouco se preocupava com as dificuldades financeiras de sua família. Cuidava dos negócios alheios e esquecia os seus. Nas infreqüentes visitas que fazia à casa de sua mulher Xantipa era recebido com tempestades de palavras ásperas que sabiamente ignorava. Sua maior ambição era ser benfeitor da humanidade. Sua bondade era tão grande quanto sua sabedoria. Desejava ver a justiça social ser exercida em todo o mundo. Em Atenas era odiado e amado. Os políticos detestavam encontrá-lo para não terem de responder perguntas embaraçosas. Para sua esposa Xantipa era um preguiçoso, mas para os jóvens atenienses era um deus. Estes adoravam ir ao seu encontro para escutá-lo  cheios de admiração. Para transmitir saber êle costumava instigar o pensamento de seus interlocutores sem jamais responder diretamente suas perguntas.
Sócrates sentia especial prazer em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra e também aqueles que diziam ser sábios quando na verdade não passavam de tolos ignorantes. Costumava chamar a si mesmo de "moscardo" (moscão). Tinha a habilidade de estimular as pessoas a pensar. Outro apelido que costumava dar a si mesmo era de "parteira intlectual", porque auxiliava as pessoas a dar nascimento às suas próprias idéias, incentivando o uso do próprio pensamento. Com muita insistência afirmava que nada sabia. Dizia: "Sou o homem mais sábio de Atenas porque sei que nada sei".
Toda a essência do ensinamento de Sócrates pode ser resumido nas seguintes palavras: "Conhece-te a ti mesmo". Ele tentava sempre aprender com todos e neste processo, ensinava a seus mestres. Costumava dizer que o saber é uma virtude; que os homens cometem crimes porque são ignorantes, não conhecem outra coisa melhor. Diferentemente do filósofo Lao-tze, acreditava que o melhor remédio para o crime é a educação. O objetivo maior de sua vida era ensinar os outros. Infelizmente, dizia ele, nem todos queriam ser aducados.
Um dia, ao chegar ao mercado para seu costumeiro debate filosófico, deparou-se com um aviso colocado na tribuna pública que dizia: "Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade. A pena de seu crime é a morte".
Foi preso e julgado pelos políticos cuja hipocrisia costumava denunciar nas praças públicas. Ao ser interpelado pelos juizes, recusou-se a defender-se dizendo que sua obrigação era sempre falar a verdade. Os juizes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual devia ser sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse: "Pelo que fiz por voz e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida à expensas públicas". Foi condenado à morte. 
Durante trinta dias foi mantido numa céla funerária. Mesmo diante da morte permaneceu calmo, discutindo tranqülamente o significado da vida e o mistério da morte. 
Críton, o mais ardente dos seus discípulos, entrou furtivamente na cela e disse ao mestre: Foge depressa, Sócrates!
-Fugir por que? Perguntou-lhe.
- Ora, não sabes que amanhã te vão matar?
-Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
-Sim, amanhã terás de beber a mortal taça de cicuta - Insistiu Críton. - Vamos, foge depressa para escapares à morte!
-Meu caro amigo Críton - respondeu-lhe - que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou: -Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou: - Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!...
E assim o mais sábio homem de todos os tempos foi obrigado acabar a vida como um criminoso. 
Ao beber o veneno, quando já sentia que seus membros esfriavam, despediu-se de todos com as mesmas palavras com que se dirigira aos juizes que o haviam julgado:" E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor dêsses caminhos, só Deus sabe".